terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Devaneios de um ex rockstar

Sob olhares enfurecidos, ensurdecido pela silêncio de uma multidão, fez seu caminho até a grande saida onde um grande letreiro metálico indicava a direção para longe dalí. Sentia seu coração bater um pouco atrás de suas orelhas, aflito escutava seu turbilhão de pensamentos, sua própria versão cinematográfica de flash backs da sua vida passando desenfreadamente em um nonstop mode, como se já não tivesse controle algum de seus devaneios. Quanto mais rápido caminhava mais sentia pesado o seu andar, mais slowmotion eram seus movimentos. A fama que trouxera glória em verões passados, naquele momento era o seu maior veículo de constrangimento. Para cada palavra que há instantes atrás havia dito, uma vergonha exercida em cada fragmento de fã outrora conquistado.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Bernardo Gonzalez

De nada adiantava espernear, esfregar as mãos sobre o rosto, contemplar um ponto fixo e fingir que o mundo agora era seu casco e cabia somente a ele carregar. Tal era a desgraça na vida de Bernardo que não bastava chorar, gritar; todos os artificios do auto flagelo já haviam sido usados.
Sobre sua mesa, alguns papéis desorganizados, uma maçã apodrecida exalava um odor adocicado no ambiente onde outrora fora mais útil. Sua velha Gold Parker esquecida sobre a agenda de couro com seu nome gravado em uma fonte cheia de floreios - "Bernardo Gonzalez". Suas cortinas azuis há semanas não eram abertas, e olhando mais atentamente era fácil identificar algumas aranhas tecendo seu habitat. Logo mais além da empoeirada escrivaninha, Bernardo jazia acordado, entregue a depressão, imerso em pensamentos obscuros. Em seu âmago pairava uma sensação de fracasso, que contorcia alguns músculos e as vezes lhe dava certa ância. Desgraçado era Bernardo. [...]





Era uma manhã incrivel de verão, o sol no horizonte dizia claramente que não pretendia ir embora tão cedo. O Amazing Park acabara de ser instalado, e de longe dava pra ver crianças histéricas com a novidade na pequena cidade de Fresno, o parque era o evento do ano na pacata cidadezinha, sem contar com alguns woodstocks fora de época, que mais consistiam em um bando de neogrunges encardidos reivindicando sabe-se lá o quê. Bernardo naquela manhã tinha um brilho diferente nos olhos, fizera a barba na noite anterior mas ainda assim carregava um tom azulado no rosto, dos pelos que insistiam em crescer. Se olhava no espelho arredondado, piscava, sorria, fazia caretas e de todo jeito se sentia ótimo. Penteou seus cabelos grisalhos, de um lado e depois para o outro, e por fim decidiu bagunçá-lo, ficava melhor com um quê de desleixo. Apesar de seus trinta anos estarem expressos em alguns pés de galinha, Bernardo estava em seu ápice de jovialidade, um bom porte físico, um espirito de moleque, e seu bom humor que sempre o rejuvenescia alguns anos. [...]